quarta-feira, 27 de abril de 2011

Kirigami é mais que desenhar com a tesoura. Por Ângelo César Meneghetti

     O kirigami pode ser praticado por pessoas de todas as idades, você pode dobrar um papel de várias formas, cortar e ver o que acontece, neste caso o kirigami "casual" ou "aleatório" chega a um resultado que o acaso proporciona, mas quando se tem uma idéia, dobra-se o papel e cortamos na intenção de algo, neste caso o kirigami é intencional, pois pretende-se com ele alcançar o mais próximo possível da idéia original. Logo, o kirigami é um processo de criação visual (bidimensional ou tridimensional) que tem o propósito de materializar a visão e os devaneios do artista. Um kirigami quando colocado diante do olhar do público transmite uma mensagem predeterminada pelo artista, seja uma intenção simples como a estilização de um animal qualquer, ou uma intenção complexa que abrange a geometria, a criatividade e a poética pessoal. O kirigami não é um produto industrial que tem de atender as exigências do público, é algo manual e único, salvo quando se corta múltiplos. Quando o kirigami é intencional, o kirigamista deve buscar a melhor maneira possível deste "algo" ser definido, caso sua intenção é criar uma borboleta e seu kirigami está mais próximo de um caramujo,  sua intenção  não está bem clara para o espectador, mas quando sua intenção é clara, a intenção do kirigami é tão forte que é comum as pessoas confundirem o kirigami com algo real, como por exemplo, quando eu corto vários animais e pergunto para as pessoas o que é isto? Eles geralmente me respondem a intenção que eu tive e não que este objeto trata-se de um kirigami, eles dizem " é um elefante, é um dragão, é uma girafa" e muito raramente dizem é um kirigami que lembra um elefante, é um kirigami que lembra um dragão ou que é um kirigami que arremete a uma girafa. A criação do kirigami não é somente estética mas também lúdica pois arremete diretamente ao faz de contas, pode ser entendido como um "jogo" de habilidades, pode ser adaptado aos "jogos" de azar e até mesmo atingir a vertigem, principalmente com os kirigamis geométricos e transgeométricos. ( Transgeometria é o termo que eu uso para quando o kirigami se apropria da geometria e resignifica para cenários que vão muito além da geometria,  foi o estilo que eu desenvolvi depois de me apropriar da geometria e meus pensamentos e kirigamis estavam muito além de meras formas geométricas).
     O kirigamista é uma pessoa com práxis, mas, antes de por suas idéias no mundo real, ele tem de dominar a linguagem visual que é a base de criação do desenho que será cortado e dobrado para a materialização do kirigami.  O kirigamista pode trabalhar sem o conhecimento consciente de qualquer desses princípios, regras ou conceitos, pois o estilo pessoal e sensibilidade com respeito às relações visuais são muito mais importantes, porém uma compreensão da linguagem visual definitivamente ampliaria sua capacidade de organização mental. Se é um corte assimétrico pode-se cortar diretamente o papel, se é um animal, uma dobra , o corte e as dobras complementares bastam, mas se é uma figura geométrica, há primeiro a definição da figura geométrica, a determinação do numero de faces, as dobras, o corte, as dobras complementares e a colagem final, e para tanto a organização mental é fundamental para a construção do poliedro, já aplicar a poética ao poliedro é outra história. Mas, se há inúmeras maneiras de interpretar a linguagem visual, como inserir a idéia, a poética, a matemático e a criatividade ao corte instantâneo que o kirigami exige? Este, diverso da linguagem falada ou escrita que possui regras mais ou menos estabelecidas, a linguagem visual não apresenta nenhuma lei evidente, logo, cada filósofo do papel pode ter vários conjuntos de descobertas completamente diferente. Particularmente, Eu como não sou descendente de orientais, não sofri a mesma influência do origami que os orientais sofrem, o meu caminho de descobertas para o kirigami seguiram passos diferentes o que me levou a diferentes resultados.
      A minha teorização tem haver com o meu pensamento sistemático, e não associativo como dos orientais, e a minha intuição teve que falar mais alto, minha emoção tem que ser direcionada, com objetividade e com a ambigüidade intencional para ser provocativa e forçar no espectador uma reflexão e uma crítica. O kirigamista é um ser provocador, que resolve problemas, que devaneia sobre a realidade e a matemática, é um atleta da poética, e se for se basear em mim, um debochado, um irônico, um brincalhão eterno, um crítico.  Mas a minha mente inquisitiva é capaz de resolver brincando o que muitos consideram extremamente difícil, coordenar o pensamento a sinestesia é um processo cognitivo e neuromotor que está ligado a coordenação psicomotora fina. Comparando o kirigami aos elementos do desenho, o kirigami pode ser figurativo, geométrico ou abstrato, bidimensional ou tridimensional, os elementos conceituais são concretos e não conceitos. O ponto que é um conceito no desenho pode ser um furo no papel. A linha é a trajetória do corte e forma a borda de um plano. o Plano tem comprimento e largura e é o próprio papel que não é apenas o suporte, mas a matéria em si da obra, se um plano sofre uma dobra, ele passa a ter altura e ser tridimensional, se criarmos figuras geométricas poderemos calcular o volume, o diferente é que no desenho o volume é ilusório e no kirigami podemos calcular pela matemática e chegar a valores numéricos reais. Além do ponto, da linha, do plano e do volume o Kirigami tem um quinto elemento, O MOVIMENTO. A Mancha no desenho em papel pode ser um corte vazado, onde a matéria e o vazio são igualmente importantes para a definição da forma "original".
     Há diferença quando eu penso primeiro para depois criar o objeto de quando eu pego o papel para depois criar o objeto. Se eu parto da idéia eu pego o papel de tal cor, de tal gramatura, de tal textura e de tal tamanho para depois fazer o que quero. Mas se eu parto do papel eu sigo um caminho diferente. O que proporciona a identificação principal para a nossa percepção do kirigami é a forma. Mas antes de eu dar forma ao papel eu o toco e sinto sua textura, se é liso ou texturizado, sinto sua gramatura se é 80, 120, 180gr, vejo sua cor e penso no que seria interessante e qual a intenção para este papel, depois me preocupo com o tamanho e que proporção eu desejo, ( no kirigami o tamanho é questão de escala ) se vou cortar o papel ou unir 4 ou mais folhas para fazer um único objeto, e por último eu vou cortar e dar a forma e formato ao papel. ( forma é o corte simples, o formato final é depois das dobras, encaixes ou colagem ).
     Quando o formato é derivado da natureza ou do mundo feito pelo homem ele é figurativo ou de representação, que pode ser realista, estilizada, quase abstrata, ou tratar da realidade distorcida. O significado intencional está presente  quando o kirigami transmite uma mensagem, a função estará presente caso o kirigami sirva a um propósito.







     O kirigami sempre forma um molde positivo e um molde negativo o que facilita muito para trabalhos de composição. Os cortes no papel faz com que usemos a matéria e integremos os espaços vazios para compor o produto final. O vazio no kirigami é tão importante quanto o papel cortado.
     Bem vou parando por aqui, já que esgotar este assunto é coisa para alguns séculos de debate, teorizar e o fazer do kirigami são coisas distintas mas fundir os dois é de ... como eu diria, uma distração. Vou procurar umas fotos pra ilustrar um pouco este texto. Beijos e até a próxima postagem.

  

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