quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Kirigami, lúdico, desenho e arte


 Brincar ou não brincar, eis a questão? O que é uma criança que não brinca? Seria um adulto ou um velho em miniatura? O que é estado lúdico e como alcançá-lo? O lúdico, ou jogo está subdividido em quatro categorias. A primeira são os jogos de habilidades, a segunda são os jogos imaginativos, a terceira são os jogos de azar e o quarto estado lúdico é a vertigem. O Kirigami abrange os quatro estados lúdicos. O primeiro estado lúdico é quando se corta o papel, pode se dizer que é um jogo de habilidade onde o mais hábil expressa melhor a sua idéia. O segundo, o jogo imaginativo, é quando se vê um kirigami, mas não como um papel cortado e sim a intenção como um elefante, um animal, um cubo, uma estrela etc. e se esquece que é uma kirigami, que é um faz de conta onde um papel recortado arremete a um elefante, um animal ou um objeto geométrico ou construto e em determinado momento o kirigami tem a força de objeto concreto e é figura de originalidade louvável como a mais refinada arte, se é que há arte maior e artes menores. Não é porque o kirigami é uma arte efêmera que ele deixa de arrebatar o espectador para o sensível. A terceira modalidade do lúdico que o kirigami abrange, mesmo que se tenha que estabelecer as regras do jogo, é o jogo de azar, por ex.: quando se faz um cubo ou dado de kirigami com papel o jogo não difere de dados comuns sólidos, posso usar dados de papel em qualquer jogo, ou criar um octaedro para jogar o I CHING, neste caso o hexaedro de Platão ou dado de seis lados do jogo comum é substituído pelo octaedro ou dado de oito faces para se jogar com o oráculo, no RPG eles usam também como dados o tetraedro, dodecaedro e o icosaedro, com quatro, 12 e 20 lados consecutivamente. O quarto estado lúdico é a vertigem que incrivelmente o kirigami também abrange, em figuras geométricas, os olhares se perdem nas formas que dançam e mudam de percepção quando vistas por ângulos e faces diferentes, o arrebatamento é total, praticamente todo ser sensível vira criança e brinca e se perde no estado lúdico. No estado lúdico não tem dor, problemas, política, religião, sexo, raça ou gênero, é apenas um instante efêmero e prazeroso na eternidade onde nos permitimos brincar. Trabalhar o aluno na habilidade, imaginação, construção de objeto concreto ou abstrato e arrebata-lo em vertigem no final do processo é atingir os quatro estados do lúdico.
            O lúdico é uma força enorme na educação, mas que nem sempre é explorado em toda sua potencialidade, “o jogo não pode ser visto apenas como divertimento ou brincadeira para desgastar energia, pois ele favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e moral”. Através dele se processa a construção de conhecimento, principalmente nos períodos sensório-motor e pré-operatório. Agindo sobre os objetos, as crianças, desde pequenas, estruturam seu espaço e seu tempo, desenvolvendo a noção de casualidade, chegando à representação e, finalmente, à lógica. As crianças ficam mais motivadas para usar a inteligência, pois querem jogar bem, esforçam-se para superar obstáculos tanto cognitivos como emocionais.”  PIAGET (1967),
            Segundo NEVES, “O Lúdico apresenta valores específicos para todas as fases da vida humana. Assim, na idade infantil e na adolescência a finalidade é essencialmente pedagógica. A criança e mesmo o jovem opõe uma resistência à escola e ao ensino, porque acima de tudo ela não é lúdica, não é prazerosa.”
                        O aluno aprende melhor e mais depressa se houver interesse pelo assunto. Motivado, um indivíduo possui uma atitude ativa e empenhada no processo de aprendizagem e, por isso, aprende melhor. A relação entre a aprendizagem e a motivação é dinâmica. A motivação pode ocorrer durante o processo de aprendizagem.
            Vygotsky diz que o pensamento propriamente dito é gerado pela motivação, isto é, por nossos desejos e necessidades, nossos interesses e emoções. Por trás de cada pensamento há uma tendência afetivo-volitiva. Uma compreensão plena e verdadeira do pensamento de outrem só é possível quando entendemos sua base afetivo-volitiva (Vygotsky, 1991 p. 101). Desta forma não seria válido estudar as dificuldades de aprendizagem sem considerar os aspectos afetivos. É necessário fazer uma análise do contexto emocional, das relações afetivas, do modo como a criança está situada historicamente no mundo...Na abordagem de Vygotsky a linguagem tem um papel de construtor e de propulsor do pensamento, afirma que aprendizado não é desenvolvimento, o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer (Vygotsky, 1991 p. 101). A linguagem seria então o motor do pensamento. Vygotsky defende que os processos de desenvolvimento não coincidem com os processos de aprendizagem, uma vez que o desenvolvimento progride de forma mais lenta, indo atrás do processo de aprendizagem. Isto ocorre de forma seqüencial. (Vygotsky, 1991 p. 102)
            Não é apenas o lúdico e a motivação que é importante, mas a educação que engloba os processos de ensinar e aprender. É um fenômeno observado em qualquer sociedade, responsável pela sua manutenção e perpetuação a partir da transposição dos modos culturais de ser, estar e agir necessários à convivência e ao ajustamento de um membro no seu grupo ou sociedade. O processo de aprendizagem ou aprender pode ser definido de forma sintética como o modo como os seres adquirem novos conhecimentos, desenvolvem competências e mudam o comportamento. A aprendizagem é um processo integrado que provoca uma transformação qualitativa na estrutura mental daquele que aprende.
“José Carlos Libâneo define as três palavras chaves - educação, instrução e ensino -, suas diferenças e sentidos diversos. A educação é apresentada como um conceito mais amplo. Podemos sintetizar o conceito de educação como sendo uma modalidade de influências e inter-relações que convergem para a formação da personalidade social e do caráter, sendo, portanto, uma instituição social. Já a instrução está relacionada à formação e ao desenvolvimento das capacidades cognoscitivas do indivíduo, mediante o domínio de certos conhecimentos. O ensino, por sua vez, é conceituado como sendo as ações, meios e condições para que aconteça a instrução. Dessa forma, verifica-se que a instrução está, de certa maneira, subordinada à educação. Estas relações criam uma relação intrincada destes três conceitos básicos os quais são responsáveis pelo ato de educar. Libâneo destaca que podemos instruir sem educar ou vice-versa. Pois, a real educação depende de transformarmos estas informações em conhecimentos, tendo nos objetivos educativos uma forma de alcançarmos a educação.” 


O kirigami pode ser praticado por pessoas de todas as idades, você pode dobrar um papel de várias formas, cortar e ver o que acontece, neste caso o kirigami "casual" ou "aleatório" chega a um resultado que o acaso proporciona, mas quando se tem uma idéia, dobra-se o papel e cortamos na intenção de algo, neste caso o kirigami é intencional, pois pretende-se com ele alcançar o mais próximo possível da idéia original. Logo, o kirigami é um processo de criação visual (bidimensional ou tridimensional) que tem o propósito de materializar a visão e os devaneios do artista. Um kirigami quando colocado diante do olhar do público transmite uma mensagem predeterminada pelo artista, seja uma intenção simples como a estilização de um animal qualquer, ou uma intenção complexa que abrange a geometria, a criatividade e a poética pessoal. O kirigami não é um produto industrial que tem de atender as exigências do público, é algo manual e único, salvo quando se corta múltiplos. Quando o kirigami é intencional, o kirigamista deve buscar a melhor maneira possível deste "algo" ser definido, caso sua intenção é criar uma borboleta e seu kirigami está mais próximo de um caramujo,  sua intenção  não está bem clara para o espectador, mas quando sua intenção é clara, a intenção do kirigami é tão forte que é comum as pessoas confundirem o kirigami com algo real, isto se deve ao fato do kirigami possuir uma propriedade lúdica imanente. A criação do kirigami não é somente estética mas também lúdica pois arremete diretamente ao faz de contas, pode ser entendido como um "jogo" de habilidades, pode ser adaptado aos "jogos" de azar e até mesmo atingir a vertigem, principalmente com os kirigamis geométricos.

     O kirigamista é uma pessoa com práxis, mas, antes de por suas idéias no mundo real, ele tem de dominar a linguagem visual que é a base de criação do desenho que será cortado e dobrado para a materialização do kirigami.  O kirigamista pode trabalhar sem o conhecimento consciente de qualquer desses princípios, regras ou conceitos, pois o estilo pessoal e sensibilidade com respeito às relações visuais são muito mais importantes, porém uma compreensão da linguagem visual definitivamente ampliaria sua capacidade de organização mental. Se for um corte assimétrico pode-se cortar diretamente o papel, se é um animal, uma dobra traduz a simetria bilateral, com o corte e as dobras complementares bastam para defini-lo, mas se é uma figura geométrica, há primeiro a definição da figura geométrica, a determinação do numero de faces, as dobras, o corte, as dobras complementares e a colagem final, e para tanto a organização mental é fundamental para a construção do poliedro, já aplicar a poética ao poliedro é outra história. Mas, se há inúmeras maneiras de interpretar a linguagem visual, como inserir a idéia, a poética, a matemática e a criatividade ao corte instantâneo que o kirigami exige? Este, diverso da linguagem falada ou escrita que possuem regras mais ou menos estabelecidas, já linguagem visual não apresenta nenhuma lei evidente, logo, cada filósofo do papel pode ter vários conjuntos de descobertas completamente diferentes.
A minha teorização tem haver com o meu pensamento sistemático, e não associativo como dos orientais, e a minha intuição teve que falar mais alto, minha emoção tem que ser direcionada, com objetividade e com a ambigüidade intencional para ser provocativa e forçar no espectador uma reflexão e uma crítica. O kirigamista resolve problemas, que flertam com a realidade e a matemática, é um atleta da poética.  Coordenar o pensamento a sinestesia é um processo cognitivo e neuromotor que está ligado a coordenação psicomotora fina. Comparando o kirigami aos elementos do desenho, o kirigami pode ser figurativo, geométrico ou abstrato, bidimensional ou tridimensional, os elementos conceituais são concretos e não conceitos. O ponto que é um conceito no desenho pode ser um furo no papel. A linha é a trajetória do corte e forma a borda de um plano e desenhos internos. O Plano tem comprimento e largura e é o próprio papel que não é apenas o suporte, mas a matéria em si da obra, se um plano sofre uma dobra, ele passa a ter altura e ser tridimensional, se criarmos figuras geométricas poderemos calcular o volume, o diferente é que no desenho o volume é ilusório e no kirigami podemos calcular pela matemática e chegar a valores numéricos reais. Além do ponto, da linha, do plano e do volume o Kirigami tem um quinto elemento, O MOVIMENTO. A Mancha no desenho em papel pode ser um corte vazado, onde a matéria e o vazio são igualmente importantes para a definição da forma "original" criativa.
O que proporciona a identificação principal para a nossa percepção do kirigami é a forma. Mas antes de eu dar forma ao papel eu o toco e sinto sua textura, se é liso ou texturizado, sinto sua gramatura se é 80, 120, 180gr, vejo sua cor e penso no que seria interessante e qual a intenção para este papel, depois me preocupo com o tamanho e que proporção eu desejo, ( no kirigami o tamanho é questão de escala ) se vou cortar o papel ou unir 4 ou mais folhas para fazer um único objeto, e por último eu vou cortar e dar a forma e formato ao papel (forma é o corte simples do papel, o formato é depois das dobras, encaixes ou colagem final). Nesta pesquisa não foi levado em conta a cor, textura e gramatura do papel, pois o foco era na aprendizagem e no processo e não no produto final. Depois de dominado o conhecimento podemos investir em papéis de melhor qualidade e cores.

Kirigami, uma experiência no ICL


Antes de entrar na UEL em uma visita ao Instituto do Câncer de Londrina, fiz distribuição de kirigami aos pacientes. Uma criança que se encantou com o trabalho pediu para sua avó que pagasse uma aula para ela aprender a fazer os bichinhos que a encantara. No dia e hora marcados a vi carequinha pelo efeito da quimioterapia, em sua mão direita havia um soro pego em uma veia na costa da mão que julguei que atrapalharia a aula já que ela não era canhota. No começo da aula expliquei que ensino por dois métodos, o imitativo pelo molde e o criativo no qual se imerge diretamente na criação. Minha surpresa foi vê-la fazer tudo sem moldes, coisa que quando ensinava professores estes sempre queriam o molde para se espelhar no meu trabalho sem o percurso do erro e acerto. Ao vê-la com a tesoura e o soro na mão, sua cabeça raspada e seus olhos brilhando maravilhada com sua própria criação, percebi que ela estava em um estado de graça além do sofrimento, as lágrimas em meus olhos não se contiveram e simplesmente chorei dando aula, não sabia se estava ensinando ou aprendendo que por traz daquele trabalho havia uma força muito maior, uma potência transformadora que ainda não estava totalmente compreendida e/ou aplicada. 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Kirigami com Desenho de Mulher Gorda

Kirigami com desenho de mulher gorda - Penélope

Penélope, inspirada no conto de Dalton Trevisan. Kirigami tamanho A3 por Angelo Cesar Meneghetti, para a exposição no SESC-Londrina. A Associação de HQ convidou 15 artistas para ilustrarem alguns contos do Homenageado da Feira do Livro e Semana Literária do SESC - Londrina de 10 a 14 de setembro. A Exposição foi prorrogada e está aberto a visitação.



sábado, 15 de setembro de 2012

Kirigami no Dia da Sergipe - Londrina

Este evento promovido pelo SESC, Museu de Artes de Londrina, Prefeitura, Acil, foi para promover o comércio e a revitalização da Rua Sergipe em Londrina - PR. Vários artistas convidados, muitos amigos e beijo a todos. Horário das 10 às 13h.
15/09/12 Dia da Sergipe


 Kirigami com Ângelo

Pintura com terra com Talita








 Rede Massa nos entrevistando









 Cloara Pinheiro com Ângelo César Meneghetti


 Cloara e Angelo


 Leandro e Cloara

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Kirigami na Feira do Livro do SESC de Apucarana-PR

Hora do Conto com Kirigami e oficina de kirigami na Semana Literária e Feira do Livro do SESC - 31a. Edição. Apucarana -PR. De 10 a 14 de setembro de 2012.

 oficina com prof. Ângelo



 10/setembro/2012

Material da oficina: tesoura, papel, lápis e moldes em lâminas de diferentes animaizinhos e a explicação do professor.  








 mão na massa















 Angelo e as crianças do pré, 
alguns já habilidosos.


 11/set/2012.














 12/setembro/12


 escorpião




 13/Setembro/2012










 14/set/12