Brincar ou não brincar, eis a questão? O que é uma
criança que não brinca? Seria um adulto ou um velho em miniatura? O que é
estado lúdico e como alcançá-lo? O lúdico, ou jogo está subdividido em quatro
categorias. A primeira são os jogos de habilidades, a segunda são os jogos
imaginativos, a terceira são os jogos de azar e o quarto estado lúdico é a
vertigem. O Kirigami abrange os quatro estados lúdicos. O primeiro estado
lúdico é quando se corta o papel, pode se dizer que é um jogo de habilidade
onde o mais hábil expressa melhor a sua idéia. O segundo, o jogo imaginativo, é
quando se vê um kirigami, mas não como um papel cortado e sim a intenção como
um elefante, um animal, um cubo, uma estrela etc. e se esquece que é uma
kirigami, que é um faz de conta onde um papel recortado arremete a um elefante,
um animal ou um objeto geométrico ou construto e em determinado momento o
kirigami tem a força de objeto concreto e é figura de originalidade louvável
como a mais refinada arte, se é que há arte maior e artes menores. Não é porque
o kirigami é uma arte efêmera que ele deixa de arrebatar
o espectador para o sensível. A terceira modalidade do lúdico que o
kirigami abrange, mesmo que se tenha que estabelecer as regras do jogo, é o
jogo de azar, por ex.: quando se faz um cubo ou dado de kirigami com papel o
jogo não difere de dados comuns sólidos, posso usar dados de papel em qualquer
jogo, ou criar um octaedro para jogar o I CHING, neste caso o hexaedro de
Platão ou dado de seis lados do jogo comum é substituído pelo octaedro ou dado
de oito faces para se jogar com o oráculo, no RPG eles usam também como dados o
tetraedro, dodecaedro e o icosaedro, com quatro, 12 e 20 lados consecutivamente.
O quarto estado lúdico é a vertigem que incrivelmente o kirigami também abrange,
em figuras geométricas, os olhares se perdem nas formas que dançam e mudam de
percepção quando vistas por ângulos e faces diferentes, o
arrebatamento é total, praticamente todo ser sensível vira criança e brinca e
se perde no estado lúdico. No estado lúdico não tem dor, problemas, política,
religião, sexo, raça ou gênero, é apenas um instante efêmero e prazeroso na
eternidade onde nos permitimos brincar. Trabalhar o aluno na habilidade,
imaginação, construção de objeto concreto ou abstrato e arrebata-lo em vertigem
no final do processo é atingir os quatro estados do lúdico.
O lúdico é uma força enorme na
educação, mas que nem sempre é explorado em toda sua potencialidade, “o jogo não pode ser
visto apenas como divertimento ou brincadeira para desgastar energia, pois ele
favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e moral”. Através dele se
processa a construção de conhecimento, principalmente nos períodos sensório-motor
e pré-operatório. Agindo sobre os objetos, as crianças, desde pequenas,
estruturam seu espaço e seu tempo, desenvolvendo a noção de casualidade,
chegando à representação e, finalmente, à lógica. As crianças ficam mais
motivadas para usar a inteligência, pois querem jogar bem, esforçam-se para
superar obstáculos tanto cognitivos como emocionais.” PIAGET (1967),
Segundo
NEVES, “O Lúdico apresenta valores específicos para todas as fases da vida
humana. Assim, na idade infantil e na adolescência a finalidade é
essencialmente pedagógica. A criança e mesmo o jovem opõe uma resistência à
escola e ao ensino, porque acima de tudo ela não é lúdica, não é prazerosa.”
O
aluno aprende melhor e mais depressa se houver interesse pelo assunto. Motivado, um indivíduo possui uma
atitude ativa e empenhada no processo de aprendizagem e, por isso, aprende
melhor. A relação entre a aprendizagem e a motivação é dinâmica. A motivação pode ocorrer
durante o processo de aprendizagem.
Vygotsky diz
que o pensamento propriamente dito é gerado pela motivação, isto é, por nossos
desejos e necessidades, nossos interesses e emoções. Por trás de cada
pensamento há uma tendência afetivo-volitiva. Uma compreensão plena e
verdadeira do pensamento de outrem só é possível quando entendemos sua base
afetivo-volitiva (Vygotsky, 1991 p. 101). Desta forma não seria válido
estudar as dificuldades
de aprendizagem sem considerar os aspectos
afetivos. É necessário fazer uma análise do contexto emocional, das relações
afetivas, do modo como a criança está situada historicamente no mundo...Na
abordagem de Vygotsky a linguagem tem um papel de construtor e de propulsor do
pensamento, afirma que aprendizado não é desenvolvimento, o aprendizado
adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento
vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de
acontecer (Vygotsky, 1991 p. 101). A linguagem seria
então o motor do pensamento. Vygotsky defende que os processos de desenvolvimento não
coincidem com os processos de aprendizagem, uma vez que o desenvolvimento progride
de forma mais lenta, indo atrás do processo de aprendizagem. Isto ocorre de
forma seqüencial. (Vygotsky, 1991 p. 102)
Não
é apenas o lúdico e a motivação que é importante, mas a educação que engloba os processos de ensinar e aprender. É um fenômeno
observado em qualquer sociedade, responsável pela sua manutenção e perpetuação
a partir da transposição dos modos culturais de ser, estar e agir necessários à
convivência e ao ajustamento de um membro no seu grupo ou sociedade. O processo
de aprendizagem ou aprender pode ser definido de
forma sintética como o modo como os seres adquirem novos conhecimentos,
desenvolvem competências e mudam o comportamento. A aprendizagem é um
processo integrado que provoca uma transformação qualitativa na estrutura
mental daquele que aprende.
“José Carlos Libâneo define as três palavras chaves -
educação, instrução e ensino -, suas diferenças e sentidos diversos. A educação
é apresentada como um conceito mais amplo. Podemos sintetizar o conceito de
educação como sendo uma modalidade de influências e inter-relações que
convergem para a formação da personalidade social e do caráter, sendo,
portanto, uma instituição social. Já a instrução está relacionada à formação e
ao desenvolvimento das capacidades cognoscitivas do indivíduo, mediante o
domínio de certos conhecimentos. O ensino, por sua vez, é conceituado como
sendo as ações, meios e condições para que aconteça a instrução. Dessa forma,
verifica-se que a instrução está, de certa maneira, subordinada à educação.
Estas relações criam uma relação intrincada destes três conceitos básicos os
quais são responsáveis pelo ato de educar. Libâneo destaca que podemos instruir
sem educar ou vice-versa. Pois, a real educação depende de transformarmos estas
informações em conhecimentos, tendo nos objetivos educativos uma forma de
alcançarmos a educação.”
O kirigami pode ser praticado por pessoas de todas as idades, você pode dobrar um papel de várias formas, cortar e ver o que acontece, neste caso o kirigami "casual" ou "aleatório" chega a um resultado que o acaso proporciona, mas quando se tem uma idéia, dobra-se o papel e cortamos na intenção de algo, neste caso o kirigami é intencional, pois pretende-se com ele alcançar o mais próximo possível da idéia original. Logo, o kirigami é um processo de criação visual (bidimensional ou tridimensional) que tem o propósito de materializar a visão e os devaneios do artista. Um kirigami quando colocado diante do olhar do público transmite uma mensagem predeterminada pelo artista, seja uma intenção simples como a estilização de um animal qualquer, ou uma intenção complexa que abrange a geometria, a criatividade e a poética pessoal. O kirigami não é um produto industrial que tem de atender as exigências do público, é algo manual e único, salvo quando se corta múltiplos. Quando o kirigami é intencional, o kirigamista deve buscar a melhor maneira possível deste "algo" ser definido, caso sua intenção é criar uma borboleta e seu kirigami está mais próximo de um caramujo, sua intenção não está bem clara para o espectador, mas quando sua intenção é clara, a intenção do kirigami é tão forte que é comum as pessoas confundirem o kirigami com algo real, isto se deve ao fato do kirigami possuir uma propriedade lúdica imanente. A criação do kirigami não é somente estética mas também lúdica pois arremete diretamente ao faz de contas, pode ser entendido como um "jogo" de habilidades, pode ser adaptado aos "jogos" de azar e até mesmo atingir a vertigem, principalmente com os kirigamis geométricos.
O
kirigamista é uma pessoa com práxis, mas, antes de por suas idéias no mundo
real, ele tem de dominar a linguagem visual que é a base de criação do desenho
que será cortado e dobrado para a materialização do kirigami. O
kirigamista pode trabalhar sem o conhecimento consciente de qualquer desses
princípios, regras ou conceitos, pois o estilo pessoal e sensibilidade com
respeito às relações visuais são muito mais importantes, porém uma compreensão
da linguagem visual definitivamente ampliaria sua capacidade de organização
mental. Se for um corte assimétrico pode-se cortar diretamente o papel, se é um
animal, uma dobra traduz a simetria bilateral, com o corte e as dobras
complementares bastam para defini-lo, mas se é uma figura geométrica, há
primeiro a definição da figura geométrica, a determinação do numero de faces,
as dobras, o corte, as dobras complementares e a colagem final, e para tanto a
organização mental é fundamental para a construção do poliedro, já aplicar a
poética ao poliedro é outra história. Mas, se há inúmeras maneiras de
interpretar a linguagem visual, como inserir a idéia, a poética, a matemática e
a criatividade ao corte instantâneo que o kirigami exige? Este, diverso da
linguagem falada ou escrita que possuem regras mais ou menos estabelecidas, já
linguagem visual não apresenta nenhuma lei evidente, logo, cada filósofo
do papel pode ter vários conjuntos de descobertas completamente diferentes.
A minha teorização tem
haver com o meu pensamento sistemático, e não associativo como dos orientais, e
a minha intuição teve que falar mais alto, minha emoção tem que ser
direcionada, com objetividade e com a ambigüidade intencional para ser
provocativa e forçar no espectador uma reflexão e uma crítica. O
kirigamista resolve problemas, que flertam com a realidade e a matemática, é um
atleta da poética. Coordenar o pensamento a sinestesia é um processo
cognitivo e neuromotor que está ligado a coordenação psicomotora fina.
Comparando o kirigami aos elementos do desenho, o kirigami pode ser figurativo,
geométrico ou abstrato, bidimensional ou tridimensional, os elementos
conceituais são concretos e não conceitos. O ponto que é um
conceito no desenho pode ser um furo no papel. A linha é a
trajetória do corte e forma a borda de um plano e desenhos internos. O Plano tem
comprimento e largura e é o próprio papel que não é apenas o suporte,
mas a matéria em si da obra, se um plano sofre uma dobra, ele passa a ter
altura e ser tridimensional, se criarmos figuras geométricas poderemos calcular
o volume, o diferente é que no desenho o volume é ilusório e no
kirigami podemos calcular pela matemática e chegar a valores
numéricos reais. Além do ponto, da linha, do plano e do volume o Kirigami tem
um quinto elemento, O MOVIMENTO.
A Mancha no desenho em papel pode ser um corte vazado, onde a
matéria e o vazio são igualmente importantes para a definição da forma
"original" criativa.
O que proporciona a identificação principal para a nossa percepção do
kirigami é a forma. Mas antes de eu dar forma ao papel eu o toco e
sinto sua textura, se é liso ou texturizado, sinto sua gramatura se
é 80, 120, 180gr, vejo sua cor e penso no que seria
interessante e qual a intenção para este papel, depois me preocupo com o tamanho e
que proporção eu desejo, ( no kirigami o tamanho é questão de escala )
se vou cortar o papel ou unir 4 ou mais folhas para fazer um único objeto, e
por último eu vou cortar e dar a forma e formato ao papel
(forma é o corte simples do papel, o formato é depois das dobras, encaixes ou
colagem final). Nesta pesquisa não foi levado em conta a cor, textura e
gramatura do papel, pois o foco era na aprendizagem e no processo e não no
produto final. Depois de dominado o conhecimento podemos investir em papéis de
melhor qualidade e cores.